quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ricos são mais propensos a trapacear, revela estudo

WASHINGTON, 27 Fev 2012 (AFP) -Pessoas mais ricas e de classes elevadas são mais propensas do que as de renda mais elevada a ter comportamentos antiéticos, revelou um estudo publicado nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

A pesquisa, realizada em sete etapas por psicólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley e da Universidade de Toronto, analisou o comportamento das pessoas por meio de uma série de experiências.

Motoristas de carros caros, por exemplo, se mostraram mais propensos a violar as leis em interseções e a interromper a travessia de pedestres do que os condutores de automóveis mais baratos.

Em um outro teste que usou um jogo de dados, quando percebiam a chance de ganhar um prêmio, as pessoas que se autodenominaram como pertencentes a classes socioeconômicas altas se mostraram mais propensas do que o resto a mentir e a dizer que tiraram números maiores do que efetivamente fizeram.

Pessoas de classes mais altas também demonstraram ser menos propensas a dizer a verdade em uma negociação hipotética de emprego, na qual atuaram como empregadores tentando contratar alguém para um trabalho que sabiam que seria encerrado em breve.

E quando receberam um recipiente com doces, que os pesquisadores informaram ser para crianças que participavam de experiências em um laboratório vizinho, os mais ricos tiraram mais balas do que os demais, quando informados que poderiam pegar algumas.

"A busca do interesse próprio é uma motivação mais fundamental na elite da sociedade e o desejo aumentado, associado a maior riqueza e status podem promover más atitudes", destacou o estudo, publicado no periódico especializado Proceedings of the National Academy of Sciences.

Uma série de fatores "pode dar origem a um conjunto de normas culturalmente partilhadas entre indivíduos da classe alta que facilita um comportamento antiético", acrescentaram os pesquisadores.

Os autores sugeriram que os mais ricos seriam mais independentes do que os outros e, portanto, menos preocupados com o julgamento dos demais acerca de suas ações do que os mais pobres.

Os mais ricos também parecem ser mais focados em suas metas, veem a ganância de forma mais positiva e têm sentimentos mais fortes de auto-indulgência, o que "pode dar forma à desatenção com relação às consequências das nossas atitudes com relação aos demais", revelou o estudo.


Notícia da AFP vista no UOL Tecnologia

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pery Ribeiro morre aos 74 anos, vítima de um infarto


O cantor e compositor Pery Ribeiro morreu na manhã desta sexta-feira (24), aos 74 anos, vítima de um infarto, no Rio de Janeiro. Ele era filho da cantora Dalva de Oliveira (1917-1972) e do cantor e compositor Herivelto Martins (1912-1992).
De acordo com a esposa de Pery, a empresária Ana Duarte, ele estava internado havia 30 dias no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte, para tratar de uma endocardite e tinha alta programada para esta semana. "Hoje [sexta-feira] pela manhã fomos surpreendidos com esse infarto fulminante", lamentou Ana, casada há 20 anos com o artista. Ele deixa dois filhos: Paula, do seu primeiro casamento, e o produtor de comerciais Bernardo Martins.

A notícia completa de Pery Ribeiro, inclusive com um pequeno perfil está no G1

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Whitney Houston é enterrada ao lado do túmulo do pai em Nova Jersey

Em uma cerimônia restrita aos amigos e familiares, a cantora Whitney Houston foi enterrada neste domingo em um cemitério de Westfield, em Nova Jersey, informou o jornal local "The Star-Ledger".

No último sábado, o velório da cantora foi marcado por uma emotiva cerimônia, realizada na igreja Batista de New Hope, em Newark. Segundo o mesmo jornal, a cantora foi enterrada ao lado do túmulo do próprio pai, John Russell Houston, que faleceu no ano de 2003.

O sepultamento da artista, que foi encontrada morta na banheira do quarto do hotel Beverly Hills, no último dia 11, começou nesta manhã com uma discreta cerimônia no cemitério de Fairwiew, ao sul da cidade de Newark, onde Houston cresceu e começou sua carreira musical.




O texto completo está no UOL Música

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Grécia e Keynes, o fora da lei


A Grécia e Keynes, o fora da lei

O BANCO CENTRAL Europeu parece ter conseguido anestesiar a crise europeia. Em dezembro, emprestou quase meio trilhão de euros aos bancos da eurozona, muitos com desidratação financeira terminal.
Se a temperatura da crise baixou um pouco, o deboche, porém, continua a aumentar.
No fim de semana, o jornal britânico "Financial Times" descobriu um termo de rendição incondicional da Grécia. Ou melhor, as novas exigências que Alemanha e cia. queriam impor aos gregos em troca de empréstimos adicionais.
Os termos: haveria um comissário europeu para controlar o Orçamento do governo da Grécia (o protetorado informal não basta); a lei grega deveria estipular que os credores do governo terão prioridade sobre outras despesas.
Faltou dizer apenas que navios de guerra tomariam o Pireu (o porto perto de Atenas) e controlariam as rendas da alfândega, como era costume dos imperialismos do século 19 e começo do 20.
O vazamento constrangedor ocorreu na antevéspera da cúpula europeia de ontem, que discutia, claro, crise, a lei europeia para punir países deficitários, a criação do "mini-FMI" europeu (o novo fundo para socorrer governos) e "crescimento com empregos" (rir, rir, rir).
Crescimento com arrocho? Quando e onde será possível?
Mesmo que a eurolândia volte a crescer uns 1,5% no ano que vem, a renda (PIB) per capita da região ainda estará ABAIXO da registrada em 2007. A situação da média dos salários é ainda pior.
No caso de Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e mesmo do Reino Unido (fora do euro), o ponto de estagnação talvez seja ultrapassado apenas entre 2016 e 2018.
O escárnio continuava ontem. A lei linha-dura contra o endividamento pode exigir que países inscrevam em suas constituições a proibição de déficit públicos.
Um servidor britânico debochou, segundo relatos de quem cobre a cúpula: "Querem criminalizar o keynesianismo" (grosso modo, a política que prevê gastos maiores do governo quando um país vive recessão em que consumo e investimento não dão pinta de ressuscitar).
"Keynesianismo", ou coisa que o valha, não pode. Emprestar meio trilhão de euros a 1% ao ano para os bancos pode.
Claro, sem os "empréstimos de última instância" do BCE, poderia haver desastre horrendo na Europa (quebra de bancos em série).
Se der certo, o plano do BCE pode induzir a banca a emprestar um pouco mais para empresas e consumidores (por ora, empresta menos).
Enfim, melhor que o presidente do BCE seja o sensato Mario Draghi, que substituiu o fundamentalista Jean-Claude Trichet, que elevou juros na Europa ainda no ano passado, talvez alucinando ao confundir as almas penadas do desemprego com o espectro da inflação.
Mas, tudo considerado, o empréstimo do BCE ainda é um presente.
Enquanto isso, a Grécia negocia o seu calote, e Alemanha e cia. pensam onde vão arrumar mais dinheiro para tapar o rombo grego. Mesmo deixando de pagar aos bancos, mesmo com "pacotes de socorro", ainda falta algum para fechar a conta da dionisíaca dívida grega. E os tropeços gregos voltam a causar tremores no esquecido Portugal. O mundo gira, os lusitanos rodam.



Aonde foram os empregos do iPhone


Aonde foram os empregos do iPhone

Por CHARLES DUHIGG e KEITH BRADSHER

Não faz muito tempo, a Apple se gabava de seus produtos serem fabricados nos Estados Unidos. Hoje quase todos os 70 milhões de iPhones, 30 milhões de iPads e 59 milhões de outros produtos que a Apple vendeu no ano passado foram montados em outros países.
Em um jantar na Califórnia em fevereiro do ano passado, o presidente Obama perguntou a Steven P. Jobs, da Apple, por que esses empregos não poderiam voltar para os EUA. "Esses empregos não vão retornar", Jobs teria respondido.
Não é apenas uma questão de os salários fora dos Estados Unidos serem mais baixos. Os executivos da Apple acreditam que a enorme escala das fábricas no exterior, além da flexibilidade, diligência e habilidade industrial dos operários estrangeiros, já superaram tanto suas contrapartes americanas que "made in the USA" deixou de ser uma opção viável para a maioria dos produtos da Apple.
Um ex-executivo descreveu como a Apple pediu para uma fábrica chinesa modificar a produção do iPhone semanas antes de o aparelho chegar às lojas. A Apple tinha modificado a tela do iPhone no último minuto, exigindo uma revisão geral na linha de montagem. Novas telas começaram a chegar na fábrica à meia-noite.
Um chefe de seção acordou 8.000 operários nos alojamentos da companhia, de acordo com o executivo. Cada operário recebeu uma bolacha e uma xícara de chá e, meia hora depois, iniciou um turno de trabalho de 12 horas, encaixando telas de vidro em molduras chanfradas.
"Não existe fábrica americana capaz de fazer algo semelhante", disse o executivo.
A Apple emprega 43 mil pessoas nos Estados Unidos e 20 mil em outros países. Muito mais pessoas trabalham para as empresas para as quais a Apple terceiriza funções: outras 700 mil pessoas trabalham como engenheiras e na fabricação e montagem de iPads, iPhones e de outros produtos da Apple. Mas quase todas elas trabalham para empresas com sede na Ásia, Europa e outros lugares, em plantas das quais todas as companhias de eletrônicos dependem para fabricar seus produtos.
"A Apple é um exemplo da razão pela qual é tão difícil gerar empregos para a classe média nos EUA hoje", disse Jared Bernstein, que até 2011 era assessor econômico da Casa Branca. "Se ela representa o pico mais alto do capitalismo, precisamos nos preocupar."
Histórias semelhantes poderiam ser contadas sobre outras companhias nos Estados Unidos, Europa e outras regiões. A terceirização tornou-se comum em centenas de setores, incluindo a contabilidade, os serviços jurídicos, o setor dos bancos, têxteis e farmacêuticos. Mas, embora a Apple esteja longe de estar isolada nesta tendência, ela oferece uma visão da razão pela qual o sucesso de algumas grandes empresas não vem se traduzindo em número expressivo de empregos no país de origem dessas companhias.
"Antigamente as empresas sentiam a obrigação moral de apoiar os trabalhadores americanos, mesmo quando isso não era a opção financeira mais acertada", comentou Betsey Stevenson, que até setembro passado foi economista do Departamento do Trabalho dos EUA. "Isso deixou de existir. Os lucros e a eficiência falam mais alto que a generosidade."
Executivos da Apple dizem que o sucesso da empresa beneficiou a economia americana, por empoderar empreendedores e gerar empregos. "Não temos a obrigação de resolver os problemas dos EUA", disse um executivo da Apple. "Nossa única obrigação é criar o melhor produto possível."

Conseguindo os empregos

Alguns anos depois de a Apple ter começado a produzir o Macintosh, em 1983, Steve Jobs afirmou que este era "uma máquina fabricada na América". Mas, em 2004, quase todas as operações da Apple eram feitas fora do país.
A Ásia era atraente porque sua mão de obra semiqualificada era barata. Mas não foi isso que levou a Apple a apostar na Ásia.
O foco sobre a Ásia "deveu-se a duas coisas", disse um ex-executivo da Apple. As fábricas na Ásia "conseguem aumentar ou diminuir a escala de produção em menos tempo" e "as cadeias de fornecimento asiáticas já superaram o que existe nos Estados Unidos".
Essas vantagens ficaram evidentes em 2007, assim que Jobs, insatisfeito com o fato de as telas de plástico do iPhone ficarem riscadas, exigiu telas de vidro.
Os fabricantes de celulares vinham evitando usar vidro, havia anos, porque o vidro requer grande precisão no corte e moagem, algo extremamente difícil de conseguir. A Apple já tinha escolhido uma companhia americana, a Corning Inc., para manufaturar vidro reforçado. Mas para descobrir uma maneira de recortar as chapas de vidro em milhões de telas de iPhones seria preciso encontrar uma planta de corte de vidro desocupada, centenas de chapas de vidro para usar em experimentos e um Exército de engenheiros de nível médio.
Então uma fábrica chinesa se candidatou a fazer o trabalho.
Quando uma equipe da Apple visitou a fábrica chinesa, seus proprietários já estavam construindo uma nova ala, "caso vocês nos deem o contrato", disse o gerente. O governo chinês tinha concordado em subsidiar custos de muitas indústrias, incluindo os dessa fábrica de corte de vidro. Ela tinha um galpão cheio de amostras de vidro disponíveis gratuitamente para a Apple. Os donos disponibilizaram engenheiros a custo quase zero. Eles já tinham construído até dormitórios no local.
A fábrica chinesa ficou com o contrato.

Vantagens chinesas

A oito horas de carro da fábrica de vidro fica um complexo, conhecido como Foxconn City, onde o iPhone é montado. O lugar tem 230 mil empregados, muitos dos quais trabalham seis dias por semana, 12 horas por dia. Mais de um quarto da força de trabalho da Foxconn vive em alojamentos coletivos da empresa, e muitos operários recebem menos de US$ 17 por dia.
Em meados de 2007, segundo o ex-executivo da Apple, depois de os engenheiros da Apple terem aperfeiçoado um método de corte de vidro reforçado para que ele pudesse ser usado na tela do iPhone, os primeiros caminhões carregados com o vidro chegaram à Foxconn City no meio da noite. Foi quando os gerentes acordaram milhares de operários para que montassem os celulares.
Em comunicado à imprensa, a Foxconn Technology contestou o relato do ex-executivo e escreveu que um turno que começasse à meia-noite seria impossível, "porque temos regulamentos rígidos relativos aos horários de trabalho de nossos funcionários". A Foxconn disse que os turnos começam ou às 7h ou às 19h e que os empregados são avisados com pelo menos 12 horas de antecedência sobre quaisquer mudanças na programação. Empregados da Foxconn contestaram essa declaração.
A Foxconn possui dezenas de fábrica na Ásia, no leste da Europa, no México e no Brasil. Ela monta estimados 40% dos eletrônicos para consumidores de todo o mundo, e tem clientes como as gigantes Amazon, Dell, Hewlett-Packard, Motorola, Nintendo, Nokia, Samsung e Sony.
Os executivos da Apple tinham estimado que precisariam de cerca de 8.700 engenheiros industriais para o projeto do iPhone. Os analistas da empresa tinham previsto levar até nove meses para encontrar tantos engenheiros nos EUA. Na China, levou 15 dias.
Vários analistas estimam que, se fossem pagos salários americanos, o custo de cada iPhone aumentaria em US$ 65. Mas fabricar o iPhone no país exigiria muito mais que apenas a contratação de americanos: exigiria transformar as economias nacional e global. Os executivos da Apple acreditam que os EUA não possuem as fábricas e os operários que seriam necessários.

Empregos para a classe média mínguam

Eric Saragoza entrou na unidade manufatureira da Apple em Elk Grove, Califórnia, pela primeira vez em 1995, e a fábrica perto de Sacramento empregava mais de 1.500 trabalhadores. Saragoza, que é engenheiro, integrou uma equipe de elite de diagnóstico. Seu salário subiu para US$ 50 mil ao ano.
Alguns anos depois de Saragoza começar no emprego, seus patrões explicaram que o custo de fabricação de um computador de US$ 1.500 em Elk Grove era de US$ 22 por aparelho. Em Cingapura, era de US$ 6. Em Taiwan, US$ 4,85.
Algumas das tarefas realizadas em Elk Grove foram transferidas para o exterior. Depois disso, foi a vez de Saragoza. Um dia em 2002, depois de concluir seu turno, ele foi convocado para uma salinha, demitido e escoltado para fora do prédio da empresa.
Depois de alguns meses, procurando trabalho para sustentar sua família de sete pessoas, Saragoza começou a se desesperar. Então aceitou um emprego para verificar iPhones e iPads devolvidos. Por US$ 10 a hora, sem benefícios, esfregava milhares de telas de vidro. Depois de dois meses ele se demitiu. O salário era tão baixo que valia mais procurar outros empregos.
Uma noite, enquanto Saragoza enviava currículos on-line, do outro lado do mundo uma mulher chegava ao escritório. A funcionária, Lina Lin, é gerente de projeto em Shenzhen, China, da PCH International, que tem contratos com a Apple para produzir acessórios, como os estojos que protegem as telas de vidro do iPad.
Lin ganha um pouco menos do que a Apple pagava a Saragoza. Todos os meses ela e seu marido colocam um quarto de seus salários no banco. "Empregos não faltam em Shenzhen", disse Lin.
Segundo economistas, uma economia em dificuldade pode ser transformada por fatos inesperados. Por exemplo, a última vez em que analistas arrancaram seus cabelos por causa do desemprego nos EUA foi nos anos 1980 e a internet mal existia. O que ainda não se sabe é se os EUA serão capazes de aproveitar as inovações do futuro para gerar milhões de empregos.


EUA sabiam de roubo de bebês na Argentina


EUA sabiam de roubo de bebês na Argentina

Segundo diário 'Clarín', declaração é de ex-funcionário americano em processo judicial
DE SÃO PAULO

O ex-subsecretário de Direitos Humanos do Departamento de Estado dos EUA Elliott Abrams afirmou que Washington tinha conhecimento, à época, do roubo sistemático de bebês de presos políticos durante a última ditadura argentina (1976-1983), segundo o jornal "Clarín".
Abrams deu declarações como testemunha, por videoconferência em Washington, em processo que investiga o roubo e a adoção ilegal de filhos de opositores ao regime militar argentino, afirma o jornal.
"Sabíamos que não era só um ou dois bebês, mas que existia um padrão, um plano, porque havia muita gente que estava sendo assassinada ou presa", disse Abrams, que foi subsecretário entre 1982 e 1985 (governo Ronald Reagan). "Tínhamos conhecimento de que crianças haviam sido retiradas de suas famílias e entregues a outras famílias quando seus pais eram presos ou mortos", afirmou ainda o diplomata, de acordo com o "Clarín".
Segundo ele, o Departamento de Estado considerava o caso "um problema muito sério de violação dos direitos humanos".
Abrams relatou encontro, em 1982, com o então embaixador argentino nos EUA, Lucio García del Solar, em que disse ter sugerido o envolvimento da Igreja Católica na resolução do caso, mas que não obteve resposta.
No processo estão sendo julgados os ex-ditadores Jorge Rafael Videla e Reinaldo Bignone, acusados de subtração, retenção e ocultação de menores, e da substituição de suas identidades.


Arquivo digital reúne 10 mil documentos das vanguardas artísticas latino-americanas


Arquivo digital reúne 10 mil documentos das vanguardas artísticas latino-americanas

Fietta Jarque
El PaísEm Madri (Espanha)

Frida Kahlo, segundo seu marido, Diego Rivera, é "a pintora mais pintor e a melhor prova da realidade do renascimento da arte do México". Assim o escreveu em um longo artigo de 1943. No Manifesto Madí de 1947, assinado por Gyula Kosice, Rhod Rothfuss e Arden Quin, ficam claras as diretrizes para os artistas que o assumirem: "O desenho madí é uma disposição de pontos e linhas sobre uma superfície. A pintura madí, cor e bidimensionalidade. Quadro recortado e irregular, superfície plana ou superfície curva ou côncava. Planos articulados com movimento linear, rotativo e de translação".
São dois exemplos escolhidos ao acaso entre os mais de 10 mil documentos do Arquivo Digital da Arte Latino-Americana e Latina (nos EUA) do século 20, colocados esta semana à disposição do público pelo Museu de Belas Artes de Houston (MFAH) e o Centro Internacional para as Artes do Continente (ICAA), em http://icaadocs.mfah.org.
Um trabalho que levou mais de dez anos e US$ 50 milhões, realizado por uma equipe de uma centena de pesquisadores de 16 cidades: de Buenos Aires a São Paulo; de Bogotá e Lima a Nova York e Los Angeles. A importância dessa iniciativa está em ter reunido e preservado documentos de uma história que ainda tem muitos capítulos por definir. "Poder-se-ia argumentar que a história da arte latino-americana do século 20 ainda está por escrever", afirma Mari Carmen Ramírez, diretora do projeto. "Ao oferecer acesso a fontes essenciais provenientes de diversos países e contextos, o Projeto de Documentos do ICAA pretende estabelecer as bases para uma futura história comparativa da arte moderna e contemporânea dos países latino-americanos."
A arte latino-americana viveu com paixão no século 20 todos os signos do modernismo. A abstração ou o surrealismo, o geometrismo e diferentes movimentos de ação política ou estética tiveram seu reflexo. Reflexo? É o que pensavam os próprios protagonistas, de alguma maneira diminuídos diante do pouco apreço internacional por suas manifestações. Triunfava-se na Europa e nos EUA; o êxito local era um prêmio de consolo. A proverbial falta de comunicação entre os próprios países latino-americanos fez que a maioria dos documentos surgidos dessas manifestações e artistas ficasse dispersa. "Estamos diante de um testemunho do alto nível que alcançou a produção intelectual", explica a porto-riquenha Ramírez. "Demonstra que na América Latina não só se produziu arte, mas pensamento teórico sobre o qual se fundamenta a produção artística. Serão encontrados muitos casos em que os latino-americanos se anteciparam tanto na teoria como na prática a avanços artísticos importantes nos EUA ou na Europa."
O novo século voltou com grande interesse o olhar para a arte latino-americana do século 20. Por um lado, o que se considerava "reflexo das vanguardas europeias, hoje se vê sob outra perspectiva. Descobrem-se sinais de identidade próprios e originais. Também se conhece o papel de determinados artistas no impulso dos movimentos internacionais. E na atualidade as mais importantes feiras de arte internacionais têm cada vez mais novos artistas e também nas obras revalorizadas dos modernos. Os principais museus estão começando ou completando suas coleções. As casas de leilões mais prestigiosas lhe dedicam seções monográficas, onde os preços começaram a subir. Além disso, a situação econômica e a estabilidade política do continente propiciaram o aparecimento de uma nova e nutrida geração de colecionadores latino-americanos, muitos deles brasileiros.
O mundo acadêmico, sobretudo o americano, aumentou seu interesse por reconstruir essa história. Daí talvez o apoio de diversas instituições para o projeto. "Como resultado da globalização e da integração dos mercados, a arte desse enclave geográfico-político se transformou em uma mercadoria global", afirma Ramírez.
O Arquivo Digital de Arte Latino-americana e Latina do ICAA é de acesso gratuito, está em espanhol e inglês e permite baixar documentos em PDF, junto com uma ficha documentada. Encontram-se textos e correspondências de artistas, textos publicados em revistas e jornais, cartazes, catálogos, assim como material inédito. O critério de seleção foi limitar-se aos documentos mais úteis para o ensino e a pesquisa. Na primeira parcela, estão 2.500 artigos de Argentina, México e a parte centro-norte dos EUA. Os das outras regiões - Brasil, Porto Rico, Chile, Colômbia, Venezuela e o resto dos EUA - serão acrescentados mais adiante, até completá-los em 2015. O projeto inclui a publicação de 13 antologias. A primeira se intitula "Resistir às Categorias: Latino-americano e/ou latino?"

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


A rebelião do "precariado" europeu


A rebelião do "precariado" europeu

"Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo
É preciso estudar"
Deolinda, "Parva que eu sou"

Após a Segunda Guerra Mundial, o crescimento econômico europeu, associado à institucionalização de direitos sociais, pareceu eliminar a insegurança da relação salarial.
Ainda que boa parte do trabalho intermitente e sub-remunerado continuasse sendo atribuída a jovens imigrantes, a combinação da proteção do trabalhador nacional com o consumo de massas (ou seja, a promessa do Estado social) se transformou em um poderoso amortecedor da luta de classes.
No início dos anos 1980, François Mitterrand resgatou do desterro o projeto da União Europeia.
Aquela promessa ajudou uma Europa que tinha acabado de sair de ditaduras filofascistas (em países como Espanha e Portugal) e de uma experiência de luta armada (como na Itália e na Alemanha) a enfrentar a competição com o neoliberalismo estadunidense.
Mesmo refém dos limites fiscais impostos pelo Tratado de Maastricht (um teto de 3% de déficit orçamentário), um continente unificado pelo binômio "eficiência e proteção" seduziu vários países do ex-bloco soviético e também parte significativa da imaginação política progressista global.
A atual encruzilhada europeia quebrou a promessa: os ajustes baseados na eliminação de direitos e os cortes orçamentários impostos pela "Troika" -a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional- recolocaram a insegurança no coração da relação salarial.
Os alvos foram as economias mais castigadas pela crise econômica. Primeiro foi a Grécia, seguida de perto por Portugal e pela Itália.
A recente rebelião do "precariado" europeu (ou seja, aquele setor da classe trabalhadora formado por jovens à procura do primeiro emprego, imigrantes e trabalhadores temporários) representa não apenas o fim de um ciclo de expansão econômica, mas o tempestuoso início de uma era de luta de classes.
"Geração à rasca", "Movimento 15-M", "Anonymous"... Não importam os nomes, a crescente degradação da proteção aos assalariados trouxe para a cena política uma fração de classe espremida entre a ameaça da exclusão social e o incremento da exploração econômica.
A luta de classes tende a se orientar pelas características desse jovem "precariado": trata-se de uma geração mais educada e internacionalizada do que seus pais, integrada "horizontalmente" em redes informacionais, além de divorciada por completo do pacto social do pós-guerra. Isso faz com que tanto a forma como o resultado da luta se tornem menos previsíveis.
Alguns sociólogos (como Guy Standing e Robert Castel) se referem a esse jovem "precariado" como uma "nova classe perigosa".
Eles estão acompanhados pelas autoridades políticas: na semana passada, às vésperas do anúncio de mais um plano de "austeridade" e diante de uma greve nacional de taxistas e caminhoneiros que ameaçou bloquear as principais rodovias do país, o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, um economista e dublê de político escolhido a dedo pela "Troika", fez uma exigência.
Ele queria mais empenho dos governos da Alemanha e da França para baixar os custos do endividamento italiano. (Em 2012, a Itália precisa rolar € 320 bilhões a uma taxa de 7% ao ano.)
Para fortalecer a sua reivindicação, Monti evocou o "perigo" da ação intempestiva dos trabalhadores na periferia da eurolândia.
A bravata de Monti errou o alvo. Até agora, o jovem "precariado" demandou apenas que os governos honrem a promessa feita a seus pais.
O perigo está no amplo ataque aos direitos sociais orquestrados pela "Troika" a fim de salvaguardar os interesses da oligarquia financeira. As verdadeiras "classes perigosas" não são as que combatem nas ruas e nas praças. Elas estão confortavelmente instaladas nos escritórios da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu.

RUY BRAGA, 39, é professor do departamento de sociologia da USP e autor de "A Nostalgia do Fordismo: Modernização e Crise na Teoria da Sociedade Salarial" (editora Xamã)


Injustiça brasileira


Injustiça brasileira

Daniela Toledo do Prado tinha 21 anos quando foi acusada por uma médica, em uma sala de emergência, de cometer um crime pavoroso: matar a própria filha, uma criança de um ano e três meses, com uma overdose de cocaína.
Em estado de choque, sem conseguir dizer quase nada em sua defesa, foi presa e levada pelos policiais, sob gritos de "vagabunda", para a cadeia, onde foi espancada.
Seu rosto ficou desfigurado. Teve a clavícula e a mandíbula quebradas. Perdeu a audição do lado direito -uma das detentas enfiou e quebrou uma caneta em seu ouvido. Apesar dos gritos, ninguém a socorreu e, somente após duas horas, foi levada, em coma, para o hospital.
Trinta e sete dias depois, porém, foi solta quando um laudo provou que não era cocaína o pó branco achado na mamadeira e na boca da menina. Mesmo assim, a Justiça só a absolveu em 2008, dois anos após perder a filha e, como ela costuma dizer, a sua própria vida.
Desempregada, evita até hoje sair de casa sozinha por medo de apanhar em razão da repercussão do caso -era chamada de "monstro da mamadeira". Toma antidepressivos, assim como seu filho de oito anos; diz sofrer dores fortes na cabeça e convulsões. "Não me esqueço do delegado. Dizia ter aberto o corpo de minha filha, que estava cheio de cocaína."
Embora terrível, o caso de Daniela não é uma exceção no Brasil. Cerca de 205,5 mil pessoas, ou 40% do total, estão encarceradas, muitas há anos, sem julgamento. São os chamados "presos provisórios", confinados frequentemente nas mesmas celas de criminosos condenados.
Quantos, de fato, são culpados e deveriam mesmo estar presos? Impossível saber. Os que um dia conseguirem provar sua inocência poderão recorrer à própria Justiça em busca de indenização. Daniela, após tanto sofrimento, conseguiu. Ganhará módicos R$ 25 mil e uma pensão mensal vitalícia de R$ 414. Isso, claro, se o governo Alckmin, que nega culpa do Estado no episódio, não conseguir reverter a decisão.



Diante do interrogador


Diante do interrogador

Marido e mulher, dispostos a voltar a Nova York depois de anos sem ir lá, foram renovar seus vistos. Contrataram um despachante para apressar o processo, pagaram a taxa que os EUA cobram pelo visto e ficaram à espera da "entrevista" -que determina que brasileiros podem ou não entrar no país. Tudo pelo figurino.
Dois meses depois, viram-se diante do funcionário encarregado de interrogá-los -digo, entrevistá-los-, mas separados por um vidro, comunicando-se com ele por um microfone e tendo atrás de si uma arfante fila de outros brasileirinhos aspirantes ao visto. E, então, o interrogador perguntou ao homem quanto ele ganhava.
O homem hesitou. O que se dizia ali era ouvido por todo mundo ao redor. Se respondesse a verdade - que faturava, em média, US$ 50 mil por mês-, pareceria estar se gabando ou tentando humilhar as pessoas na fila. Sua hesitação foi tida como suspeita. O interrogador repetiu a pergunta, em tom áspero, como quem diz, "Ande logo, não me faça perder tempo".
O casal tinha cerca de 60 anos; o interrogador, idem. Pessoas nessa idade tendem a se conhecer por um olhar. E, por seus passaportes -cheios de carimbos europeus-, roupas e postura, nada sugeria que o casal pretendia estabelecer-se ilegalmente e vender pentes na rua 46. Mas o interrogador reincidiu na aspereza e, em seu pândego português com sotaque, ameaçou negar o visto.
Constrangido e se sentindo um criminoso, o homem decidiu mentir. Abateu pela metade a declaração de seus rendimentos. O interrogador pareceu satisfeito e mandou o carimbo. Isto foi há um ano. Outro dia, o presidente Obama, interessado em que mais turistas brasileiros ajudem a combalida economia americana, prometeu coibir as exigências de seus consulados. Veremos se coíbe também a arrogância.


Colonização israelense avança em Susiya, vilarejo palestino da Cisjordânia


Colonização israelense avança em Susiya, vilarejo palestino da Cisjordânia

Laurent Zecchini
Enviado especial a Susiya (Cisjordânia)

Esse vilarejo é um caso típico da ocupação israelense na Cisjordânia, embora não seja exatamente um vilarejo. A população palestina de Susiya al-Kadim foi expulsa em 1985, após a descoberta de uma antiga sinagoga em território municipal. As casas foram demolidas, e os colonos ali se instalaram, sob proteção do Exército. Era a primeira vez desde 1948 que essa comunidade instalada ao sul de Hebron, nas portas do Neguev, sofria a fúria do ocupante, mas não a última.
Em 1991, 1997 e duas vezes em 2001, as tentativas de reconstruir o vilarejo nas terras pertencentes aos camponeses foram aniquiladas pelos buldôzeres israelenses. Desde então, a população vive nas colinas em vários acampamentos rudimentares, cercada por implantações protegidas pelo Exército israelense. Ao norte, percebe-se um telhado de cor ferrugem, que abriga a antiga sinagoga. Esse “sítio arqueológico” agora considerado “parque nacional”, hospeda ali perto um “posto avançado” de colonização.
Embora seja ilegal tanto do ponto de vista da lei israelense como das normas internacionais, ele é defendido por um destacamento das Forças de Defesa de Israel. Uma alquimia como essa não tem nada de anormal na “Zona C”, a parte do território que representa 62% da Cisjordânia, onde vivem 5,8% da população palestina e onde Israel exerce um controle total no plano da segurança, e quase completo no plano civil. É a meca da colonização.
Ao longo dos anos, o número de colonos chegou a mais que o dobro que o da população palestina (310 mil contra 150 mil). O êxodo da segunda é particularmente forte no vale do Jordão, corredor situado entre a Cisjordânia e a Jordânia, considerado estratégico por Israel, onde 56 mil palestinos vivem hoje, sendo que eram 250 mil antes de 1967, segundo afirmam.
Ao sul dos acampamentos temporários palestinos, é possível distinguir os telhados vermelhos característicos de um assentamento, o de Susiya, cercado por uma terra de ninguém vigiada pelo Exército. A leste e a sudeste se espalham outras colônias e postos avançados como Avigayil, Mitzpe Yair, Lucifer Farm e Metzadot Yehuda.
Nasser Ahmad Nawaja vive em uma colina árida castigada pelos ventos, com 45 outras famílias, literalmente cercadas pelas implantações judaicas. No verão, o lugar é um forno, e no inverno as 320 pessoas que se abrigam sob tendas e em algumas casas de concreto, congelam. Os moradores da região sempre lutaram contra as incertezas climáticas vivendo parte do ano em grutas. Esses refúgios não estão mais disponíveis: Nasser explica que o Exército murou a maior parte delas, “para assegurar a segurança dos colonos”. Estes últimos terminaram o trabalho enchendo as cisternas de recuperação de água de chuva.
Como todos seus vizinhos, Nasser Ahmad Nawaja vive em suspense. O Exército pode decidir a qualquer momento destruir o acampamento: 16 estruturas já estão sob “ordem de demolição”. Ele explica que sua família vive em Susiya há gerações. “Estávamos aqui antes da criação do Estado de Israel; temos títulos de propriedade que datam da época otomana”, mas não são reconhecidos por Israel.
O que não quer dizer que todas as leis otomanas sejam inválidas para o Estado judeu, pelo contrário. Uma delas, que diz respeito às “terras mortas”, previa que o sultão podia recuperar uma terra cultivável que estivesse ociosa durante três anos. Uma outra medida estipulava que se um camponês cultiva um terra não registrada durante dez anos, esta se torna sua propriedade.
O “sultão” hoje é israelense. Sabendo que na Cisjordânia somente um terço das terras é registrado, é fácil para ele estender seu domínio pela colonização. Entende-se rápido o porquê em Susiya: a colônia é cercada por uma “zona de segurança” dez vezes mais extensa que a implantação, que engloba as terras palestinas. Os cultivadores palestinos não têm direito de chegar até ali, ao contrário dos colonos. A cada 100 metros, há fileiras de tonéis enferrujados onde crescem jovens oliveiras.
E assim se prova que esses terrenos não são explorados por seus proprietários palestinos. Em um prazo de menos de dez anos, os colonos poderão reivindicá-los! Nasser Ahmad Nawaja olha com raiva para os campos situados a cerca de 100 metros de seu acampamento, em zona proibida. Ele sabe que há cerca de trinta cisternas ali, muitas das quais não são usadas, que permitiriam abastecer pessoas e animais.
As condições de vida em Susiya são de extrema precariedade, mas as famílias palestinas se mantêm firmes: elas sabem que qualquer terra abandonada é pega pelos colonos. Uma vez, pelo menos, o Supremo Tribunal considerou que os camponeses tinham direito de voltar para suas terras. O Exército não contestou esse veredicto: ele lembrou que os interessados não tinham permissão para construir, e emitiu ordens de demolição.
Diante do rolo compressor israelense, Nasser Ahmad Nawaja tem a impressão de estar conduzindo uma luta já perdida. Ele não tem nenhuma dúvida sobre a vontade de Israel de continuar com a colonização na Zona C e dali expulsar o maior número possível de palestinos, aos poucos tornando impossível a criação de um Estado palestino.
Tradutor: Lana Lim