quarta-feira, 30 de março de 2016

Pela legalidade


Ser legalista não é o mesmo que ser governista, ser governista não é o mesmo que ser corrupto. É intelectualmente desonesto dizer que os governistas ou os simplesmente contrários ao impeachment são a favor da corrupção.
Embora me espante o ódio cego por um governo que tirou milhões de brasileiros da miséria e deu oportunidades nunca antes vistas para os pobres do país, não nego, em nome dessas conquistas, as evidências de que o PT montou um projeto de poder amparado por um esquema de corrupção. Isso precisa ser investigado de maneira democrática e imparcial.
Tenho feito inúmeras críticas públicas ao governo nos últimos 5 anos. O Brasil vive uma recessão que ameaça todas as conquistas recentes. A economia parou e não há mais dinheiro para bancar, entre outras coisas, as políticas sociais que mudaram a cara do país. Ninguém é mais responsável por esse cenário do que o próprio governo.
O esfacelamento das ideias progressistas, que tradicionalmente gravitam ao redor de um partido de esquerda, é também reflexo da decadência moral do PT, assim como a popularidade crescente de políticos fascistas como Jair Bolsonaro.
É possível que a esquerda pague por isso nas urnas das próximas eleições. Caso aconteça, irei lamentar, mas será democrático. O que está em andamento no Brasil hoje, no entanto, é uma tentativa revanchista de antecipar 2018 e derrubar na marra, via Judiciário politizado, um governo eleito por 54 milhões de votos. Um golpe clássico.
O país vive um Estado policialesco movido por ódio político. Sergio Moro é um juiz que age como promotor. As investigações evidenciam atropelos aos direitos consagrados da privacidade e da presunção de inocência. São prisões midiáticas, condenações prévias, linchamentos públicos, interceptações telefônicas questionáveis e vazamentos de informações seletivas para uma imprensa
controlada por cinco famílias que nunca toleraram a ascensão de Lula.
Você que, como eu, gostaria que a corrupção fosse investigada e políticos corruptos fossem para a cadeia não pode se render a esse vale-tudo típico dos Estados totalitários. Isso é combater um erro com outro.
Em nome da moralidade, barbaridades foram cometidas por governos de direita e de esquerda. A luta contra a corrupção foi também o mote usado pelos que apoiaram o golpe em 1964.
Arrepio-me sempre que escuto alguém dizer que precisamos "limpar" o Brasil. A ideia estúpida de que, "limpando" o país de um partido político, a corrupção acabará remete-me a outras faxinas horrendas que aconteceram ao longo da história do mundo. Em comum, o fato de todos os higienizadores se considerarem acima da lei por fazerem parte de uma "nobre cruzada pela moralidade".
Você que, por ser contra a corrupção, quer um país governado por Michel Temer deve saber que o processo de impeachment foi aceito por conta das chamadas pedaladas fiscais, e não pelo escândalo da Petrobras. Um impeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é inconstitucional.
O nome de Dilma Rousseff não consta na lista, agora sigilosa, da Odebrecht, ao contrário dos de muitos que querem seu afastamento. Um pedido de impeachment aceito por um político como Eduardo Cunha, que o fez não por dever de consciência, mas por puro revide político, é teatro do absurdo.
O fato de o ministro do STF Gilmar Mendes promover em Lisboa um seminário com lideranças oposicionistas, como os senadores Aécio Neves e José Serra, é, no mínimo, estranho. A foto do juiz Moro com o tucano João Doria em evento empresarial é, no mínimo, inapropriada.
E se você também achar que há algo de tendencioso no reino das investigações, não significa que você necessariamente seja governista, muito menos apoiador de corruptos. Embora a TV não mostre, há muitos fazendo as mesmas perguntas que você.


Texto de Wagner Moura, publicado na Folha de São Paulo, via DCM.

terça-feira, 29 de março de 2016

Os Bestializados

No dia 15 de novembro de 1889, Aristides Lobo escreveu sobre o golpe militar frio que ficou conhecido como a Proclamação da República: "O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada. Era um fenômeno digno de ver-se."
O dramaturgo Arthur Azevedo também viu o cortejo militar: "Os cariocas olhavam uns para os outros pasmados, interrogando-se com os olhos, sem dizer palavra. Na Rua 1º de março a passeata desfilou em silêncio, com Deodoro tentando manter-se ereto na sela e apresentando sintomas de recrudescimento de sua doença cardíaca."
O que o povo assistiu foi uma parada militar com algumas centenas de soldados e a tomada de poder por um distraído marechal com dispnéia. Deodoro da Fonseca, cuja intenção em por-se à frente da quartelada era inicialmente derrubar o Ministério do Visconde de Ouro Preto, gritou ao entrar no prédio do governo no mesmo dia 15 que hoje celebramos: "Viva sua Majestade, o Imperador!"
Fonseca acabou derrubando algo mais que o gabinete, numa trama confusa, cheia de boatos, rixas pessoais, lances de improviso e até ciúmes - Baronesa de Triunfo, onde estaríamos sem ela? Talvez o lacerdismo tenha sido inventado ali, nas intrigas palacianas que alimentaram a queda do Império, entre maçons, padres, editores de jornal (depois seriam censurados), milicos e escravocratas frustrados.
No dia mesmo da "proclamação", Aristides Lobo escreveu: "Mas voltemos ao fato da ação ou do papel governamental. Estamos em presença de um esboço, rude, incompleto, completamente amorfo." Lobo foi Ministro do Interior do governo provisório de Marechal Deodoro por apenas dois meses. Rompeu com uma república investida de poderes ditatoriais, especialmente preocupada em manter os privilégios dos oligarcas brasileiros.
O "esboço rude e incompleto" duraria mais tempo do que poderia imaginar: nossa república (do latim, res publica: coisa pública) jamais teria o bem comum sobreposto ao privado.
Difícil não pensar na população e nas ruas do Rio de Janeiro e de Brasília, já prevista no artigo 3º da constituição de 1891. Os valores ligados à ascensão da república moderna - igualdade entre cidadãos, justiça para todos, liberdades civis, capitalismo - jamais foram encontrados na nossa primeira capital republicana e muito menos na segunda. Ambas vitrines socialmente hierarquizadas, a primeira envenenada por raízes escravocratas, a segunda nascida sob o signo da burocracia estatal.
Passadas doze décadas, mantêm-se o fosso entre república e cidadania no Brasil. A população deseducada, os acertos do poder fora de seu alcance e compreensão. Tirando breves solavancos, a República Velha e seu apreço aos donos da terra e do dinheiro parecem mais vivos que nunca. Nas estranhas deste e de qualquer governo viável estará ainda o PMDB e seu coronelismo eletrônico. (Favor me acordar caso aconteça algo diferente disso nos próximos meses ou anos.)
No entanto, há de se admitir grande diferença em relação aos brasileiros calados do final do século XIX: hoje temos a impressão de que podemos mudar alguma coisa. Nós, os bestializados, há tempos não assistimos mais de fora as paradas - militares ou não. 


Texto de J. P. Cuenca, na Folha de São Paulo

O 'U da felicidade'

Umas das questões que mais ocupa nossas mentes no início do século 21 é a felicidade.
Na filosofia, a felicidade tem inúmeros sentidos. Da beatitude mística (nas religiões), passando pelo cuidado para que o desejo não nos enlouqueça (estoicismo e epicurismo), até chegarmos ao entendimento mais comum em nossos dias que é a felicidade como realização dos nossos desejos (fruto da sociedade de consumo).
Confesso que considero a busca maníaca pela felicidade meio brega, mas, nem por isso podemos negligenciá-la, principalmente quando se trata de algo tão presente em nosso atual modo de vida.
Mas há um outro motivo para levarmos a sério a busca pela felicidade. Trata-se do simples fato de que somos candidatos certos à infelicidade. Doenças, frustrações, traições, morte, enfim, todo um universo infinito de perdas.
Por isso, mesmo que eu julgue que viver obcecado pela felicidade é um atestado de superficialidade de alma, não podemos deixar de reconhecer que há razões de sobra para temermos a infelicidade.
Estudos sobre felicidade relacionam idade à possibilidade maior ou menor de nos sentirmos felizes. Sei que você deve estar se perguntando o que eu quero dizer por felicidade.
Reconheçamos que, mesmo que "vagamente", está claro para nós que felicidade hoje em dia tem a ver com a realização de desejos e com o usufruto do corpo com saúde o maior tempo possível.
Então chegamos ao "U da felicidade". Entenda esse U como uma parede que desce (o lado esquerdo do U), o fundo do poço (a parte baixa ou o fundo do U) e uma parede que sobe (o lado direito do U).
Quando nascemos estamos na parte mais alta do U, na sua parede esquerda. Jovens, com saúde plena (na maioria esmagadora dos casos, fora raras exceções médicas), temos todo um futuro pela frente, cheios daquele encantamento que enche nosso coração de disposição para a vida, tudo é novo e interessante, inclusive os outros jovens à nossa volta.
As ideias mais absurdas nos parecem possíveis. Enchemos a cara e levantamos no dia seguinte para fazer a prova. O mundo está aberto para nossos sonhos, inclusive porque o mercado trabalha cada vez mais para nós. Então inicia-se nossa descida "aos infernos".
Lá pelos 40 anos de idade, estamos chegando à parte baixa da parede esquerda do U. Já com alguns amores traídos, talvez a carreira profissional já tenha se revelado na sua possível mediocridade, grana curta, horizonte já mais estreito.
Chegando aos 45, até uns 60, estaremos no inferno. Saúde já apresentando limites, casamentos já fracassados, vida "single" já se revelando na sua face de solidão desinteressante, corpo já fora da forma de plena da beleza a ser consumida no "mercado do desejo", filhos muitas vezes que se tornaram uns estranhos sem nenhum interesse em nós ou nós neles, enfim, essa fase é a pior de todas.
Mas eis que algumas pessoas a partir dos 60 anos de idade relatam uma significante retomada da felicidade. Caso tenhamos cuidado razoavelmente da saúde e não tenhamos destruído qualquer pequeno patrimônio, descobriremos que não vai adiantar exigir de nós mesmos padrões de pessoas com 30 anos.
Caso tenhamos sonhado a vida inteira com os Alpes suíços, descobriremos que a Serra Gaúcha pode ser também uma boa pedida. Buenos Aires está mais perto do que Paris, os cinemas estão à mão, e o desejo de engolir o mundo já passou.
Um pouco de tranquilidade da alma, como diziam os estoicos, pode estar mais próximo do que imaginávamos, e a medicina e a estética farão de pessoas da mesma idade que nós parceiros interessantes e com experiências semelhantes às nossas.
Aí então iniciaremos a subida da parede direita do U. Acima de tudo, teremos mais tempo no cotidiano para fazer o que quisermos. Esses estudos mostram que os níveis de felicidade podem voltar a subir a partir dos 60 anos de idade.
E, então, crescerá a sensação de que temos condições de realizar alguns dos nossos desejos que antes nos pareciam impossíveis.
Enfim, talvez possamos mandar o mundo que nos enche o saco para aquele lugar e então repousaremos em nós mesmos.


Texto de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo

O lado de lá

Em geral tento escrever pra quem não concorda comigo.
Gosto de pensar no leitor de camisa polo e mocassim, batendo panela numa varanda do Leblon.
Essa semana, no entanto, queria falar com os semelhantes.
Sim, com você mesmo. Você que frequenta o carnaval de rua, você que é de humanas, que nunca sabe que dia do mês é hoje, às vezes não sabe sequer o mês, você que confunde a fórmula de Golgi com o complexo de Bhaskara, você que foi às ruas em 2013 pelos 20 centavos, você que mesmo com pressa e sem dinheiro sempre acaba comprando fanzines de poesia na porta do museu ("curte poesia?"), você que não come carne ou tá tentando parar de comer, você que ama o Mujica tanto quanto ama beijos triplos e férias em Moreré: sei bem o que você tá sentindo.
Também estou tentando entender por que é que as mesmas pessoas que não protestaram contra o aumento de tarifa, contra Belo Monte, contra Eduardo Cunha estão hoje nas ruas pedindo a queda de Dilma.
Afinal, das centenas de nomes da lista da Odebrecht, nenhum deles é o da presidenta.
Por que raios querem derrubar a única pessoa que, até o momento presente, não está sendo investigada? Porque, você talvez dirá, são fascistas que não toleram a distribuição de renda e as conquistas sociais promovidas pelo PT e por isso aplicam um golpe branco. Será?
Milhões de pessoas foram às ruas (dentre elas, aposto, muita gente que você ama) pedindo o impeachment. O Brasil não tem milhões de golpistas. Tem uma centena de dementes que pede intervenção militar? Tem. Mas a imensa maioria só tá mesmo muito mal informada —basta ver a qualidade das revistas semanais.
Vale lembrar que do lado de lá tem gente que acha que você ganhou R$ 30 para defender um governo corrupto. Tem gente que acha que você quer implantar uma ditadura comunista.
Tem gente que acha que você defende direitos humanos porque gosta de bandido. Não cometa com eles a mesma generalização imbecil que estão cometendo com você.
Nessas horas, é preciso fugir do fascismo midiático e resgatar um pouco de empatia e paciência. Empatia para ver no outro um igual, digno de ser convencido. Paciência para explicar que um impeachment, agora, equivale a botar a raposa pra cuidar do galinheiro.
Por trás de toda camisa polo, bem ali, na altura do cavalinho da Ralph Lauren, também bate um coração —um coração que tem todo o direito de estar insatisfeito.


Texto de Gregório Duvivier, na Folha de São Paulo

O golpe da menoridade

Seria interessante saber se a turma teria batido panela quando foi divulgada a lista da Odebrecht. Mas nunca saberemos. O tempo dedicado à notícia nos telejornais foi tão pequeno que não deu tempo de ir à cozinha e voltar com as panelas. Nenhuma das revistas semanais deu capa à lista da Odebrecht. O juiz Sergio Moro decretou sigilo sobre as informações.
É possível argumentar que tudo isso foi razoável.
Não é possível ainda saber quais nomes na lista de fato recebiam subornos. Há casos esquisitos. O site de fact-checking "Aos Fatos" achou, por exemplo, candidatos que receberam dinheiro em anos em que não disputaram eleições.
Mas é difícil descobrir quais das contribuições eram legítimas, porque o esquema pelo qual doações (mesmo as legais) são feitas é tortuoso.
Deve haver inocentes na lista.
A novidade da semana passada, entretanto, foi que voltamos a falar sobre devido processo legal, benefício da dúvida e direito de defesa. Não houve nenhum desses cuidados quando vazou a delação de Delcídio, ou quando o juiz Sérgio Moro divulgou os áudios de Lula. A diferença se explica pelo fato de que dessa vez nem todos os acusados eram petistas.
Essa simples volta à normalidade institucional que vimos semana passada é o que desejam os deputados que votarão o impeachment. Depois de assistirem a mudança de tom dos últimos dias, reforçarão a convicção já formada: roubar sem o PT como cúmplice dá muito menos problema.
A sobriedade da semana passada, portanto, foi uma jogada tão agressiva pelo impeachment quanto a gritaria das semanas anteriores.
Por essa e outras razões, o impeachment de Dilma é quase inevitável. O PMDB segue fazendo ameaças de rompimento cada vez mais entediantes; todos sabem que os pemedebistas já fugiram. Sem o PMDB, a queda de Dilma é quase certa.
Os placares de votos contra e a favor do impeachment ainda não dão um resultado conclusivo, mas podem apostar: isso é porque muitos deputados estão esperando para aderir no último minuto. O voto decisivo sem dúvida será mais caro.
Só resta a Dilma uma jogada, resistir no cargo e esperar as delações. Talvez uma delas atinja Temer irremediavelmente. Talvez atinja tanta gente na oposição que a correlação de forças mude.
Não deve dar certo, porque os mecanismos no Congresso já foram postos em funcionamento acelerado. Os deputados estão tão empenhados em correr para derrubar Dilma que já demonstram serenidade diante do martírio de trabalhar de segunda a sexta.
O maior temor é que a megadelação da Odebrecht ocorra enquanto ainda houver a mobilização em torno do impeachment.
Porque se há algo que todos admitem é que a lista da semana passada foi só um aperitivo. Se a Odebrecht, de fato, divulgar tudo que sabe, teremos duas opções para decidir quem governará o Brasil.
A primeira é reeditar o "Golpe da Maioridade" de 1840 e eleger presidente alguém que ainda não tenha idade para ter feito nada de errado. Da última vez deu certo: Pedro 2º foi um governante razoável.
A outra alternativa é muito mais provável: decretar a menoridade penal do PMDB e da oposição, aplicar-lhes algumas medidas socioeducativas e incentivá-los a se reinserir na sociedade em alguma profissão respeitável, como a Presidência da República ou um ministério com um bom orçamento.


Texto de Celso de Rocha de Barros, na Folha de São Paulo.

Número de mortos em atentado no Paquistão sobe para 72

Número de mortos em atentado no Paquistão sobe para 72

Vinte e nove crianças estão entre as vítimas, segundo autoridades
As autoridades paquistanesas elevaram nesta segunda-feira para 72 o número de mortos no atentado suicida desse domingo na cidade de Lahore, no Leste do país. Zaeem Qadri, porta-voz do governo da província de Punjab, da qual Lahore é capital, afirmou que entre os mortos estão 29 crianças. Mais 315 pessoas ficaram feridas no atentado, no parque público Gulshan-i-Iqbal, acrescentou o porta-voz, citado pela agência oficial chinesa Xinhua.
Qadri informou ainda que já foram identificadas 54 vítimas, cujos corpos foram entregues aos familiares. O atentado, cuja autoria foi reivindicada pelo grupo talibã Jamaat ul Ahrar, foi praticado por um homem-bomba de 28 anos, procedente da cidade de Muzaffargarh, pertencente a Punjab.

O suicida entrou no parque e acionou o explosivo que tinha no corpo, perto da área de jogos para crianças, por isso a maior parte das vítimas é formada por crianças e mulheres, disse um integrante da administração da cidade, Mohammad Usman, acrescentando que o número de vítimas pode ser maior. O ministro-chefe de Punjab, Shahbaz Sharif, anunciou três dias de luto e disse que todos os edifícios governamentais da província vão colocar a Bandeira Nacional a meio-mastro.

Rerprodução do Correio do Povo

Morre o escritor francês Alain Decaux aos 90 anos

Morre o escritor francês Alain Decaux aos 90 anos

Acadêmico estava internado em hospital de Paris
O escritor, biógrafo e acadêmico francês Alain Decaux morreu neste domingo no Hospital Pompidou em Paris, aos 90 anos, anunciou sua esposa, Micheline Pelletier-Decaux.
Este formidável contista, autor de mais de 60 obras, entrou a partir dos anos 1950 para a história da rádio e televisão francesa, onde criou vários programas famosos. Eleito para a Academia Francesa em 1979, ministro da Francofonia (1988-1991) durante a presidência do socialista François Mitterrand, o contista criou e apresentou vários programas que se tornaram clássicos.

Decaux publicou seu primeiro livro, "Louis XVII retrouvé", em 1947 e foi premiado pela Academia Francesa com seu segundo trabalho, "Letizia".  Em 1989, foi nomeado coordenador da política externa de televisão da França. Desde 1999, existe o prêmio Alain Decaux para a Francofonia. Casado duas vezes, Decaux deixa três filhos.

Reprodução do Correio do Povo

O xadrez do pacto necessário


Os antecedentes da crise

Nos anos 1980 a 2000, a desregulação financeira permitiu que toda sorte de capitais circulasse pelo sistema financeiro internacional, de petrodólares ao tráfico internacional, dos novos bilionários da tecnologia à corrupção política.
O grande fator inicial de facilitação foram os avanços da telemática, das transações eletrônicas, permitindo transferir instantaneamente recursos de uma conta para outra. Está aí o grande acervo do Banestado para comprovar. Os Estados Unidos limitavam-se a cercar as atividades ligadas ao tráfico.
Com os atentados nas torres gêmeas, montou-se a cooperação internacional e o monitoramento de todas as transações financeiras.
Esse movimento causou terremotos sociais e políticos de monta. Na prática, acabou comprometendo todo um modelo de democracia representativa em países em desenvolvimento.
A influência dos poderes econômicos sobre a democracia é um dado histórico, financiando campanhas, pressionando através de parcerias midiáticas. Nos países centrais, muitas dessas práticas foram legalizadas, como o papel dos lobbies, a atuação dos procuradores punindo, mas resolvendo rapidamente a questão e, principalmente, zelando pela integridade das empresas - ao contrário da visão medieval dos MPs mais atrasados que julgam que, assim como os livros, empresas precisam ser queimadas para não propagar o pecado.
As jovens democracias, recém-emergindo de períodos autoritários, não conseguiram se adaptar aos novos tempos de transparência, não lograram sequer legalizar a atividade do lobby. Praticamente todos os partidos continuaram dependendo de financiamentos de campanha, caixa dois, quanto não da corrupção política explícita.
A partir daí, gerou-se uma indústria da denúncia.
Como as irregularidades eram generalizadas, bastava aos grupos que detinham poder de investigação ou de disseminação da informação – mídia, procuradores, policiais – escolher o lado e desequilibrar o jogo político.
Em muitos locais, as denúncias, inquéritos e processos tornaram-se instrumentos de disputa geopolítica ou de jogos políticos internos.
De qualquer modo, é um dos sinais mais evidentes de fim de ciclo. Não haverá mais espaço para o velho modelo de política, desmorona-se a velha ordem, com todas as instituições postas em xeque – a não apenas o Legislativo, mas os demais poderes.
A geração que chegou com as diretas, montou a Constituição, estabilizou a economia, passou a combater as desigualdades, chega ao fim. Sua derradeira contribuição será construir as pontes para os novos tempos.
Se falhar, legará para as novas gerações um país conflagrado.
Neste momento, encerra-se a fase Lava Jato e começa a fase Congresso da crise. Vamos a um apanhado dessas duas etapas.

Etapa Lava Jato

Em pouco tempo será levantada a gênese da Lava Jato. A versão de que viram um cordão solto, de nome Paulo Roberto, puxaram e explodiu a bomba A vale para séries de TV, não para o mundo real.
De concreto se tem o seguinte modus operandi:
1.    Desde a Operação Banestado, Juiz e procuradores sabiam que o doleiro Alberto Yousseff era uma espécie de clearing que operava as propinas de empreiteiras para todo o universo político.
2.    Para quem participou das investigações do Banestado – como os procuradores e o juiz – era evidente a existência de uma ampla rede de financiamento político por parte das empreiteiras, que abarcava todo o universo político brasileiro, União e estados. A rede era o todo; a Petrobrás, parte.
3.    Qualquer investigação isenta colocaria como hipótese inicial essa grande clearing. A partir do levantamento de sua atuação, se desdobrariam as investigações para cada núcleo de corrupção – da Petrobras ao Rodoanel de São Paulo ou à Cidade Administrativa de Minas.
4.    No entanto, optou-se exclusivamente por uma data de corte – 2003 –, e um foco único – a Petrobras - ignorando não apenas a corrupção passada, como a presente.
Esse foi o lance fundamental, que condicionou todas as investigações posteriores e transformou a Lava Jato, de uma operação destinada a limpar o país, em um instrumento poderoso de um jogo político montado com os grupos de mídia.
Em entrevista à Jovem Pan (http://migre.me/tmxrV), o entrevistador pergunta ao Procurador Carlos Fernando dos Santos se a Lava Jato não seria uma extensão do caso Banestado. Ele responde que a Lava Jato é a parte escondida do iceberg do “mensalão” e nem ousa mencionar Banestado em sua resposta.
Já para o procurador Deltan Dallagnol, “a investigação de fatos tão antigos não tem viabilidade prática, porque a guarda de documentos fiscais ou bancários não alcança tanto tempo. A lei exige que dados fiscais, por exemplo, sejam guardados só por cinco anos, o que libera as empresas de guardarem os documentos que embasam os lançamentos e colocaria empecilhos significativos à investigação”.
A Operação Banestado levantou dados de transações bancárias desde os anos 90. As contas do HSBC registram todas as transações desde os anos 90. O sistema bancário brasileiro, o suíço, o de Bahamas, têm armazenados todos os registros de transações efetuadas nas últimas décadas. A União tem registrado todos os contratos feitos com a administração pública, assim como Estados e municípios. A Receita Federal mantém bancos de dados de décadas.
Mas o bravo Dallagnol diz que não pode investigar porque os dados fiscais são guardados por apenas cinco anos. Dados fiscais são os comprovantes físicos que embasam as operações de uma empresa.
Como bem observou Tereza Cruvinel (http://migre.me/tmCGo) a entrada da lista da Odebrecht na parada – mostrando o funcionamento do “sistema” – liquidou com a narrativa da Lava Jato. Mas, à esta altura, o jogo migrou para o Congresso. Assim como no episódio da Mossak Fonseca, os detidos foram rapidamente libertados e o manto do sigilo encobriu as investigações. E, pela primeira vez, o PGR Rodrigo Janot procurou enquadrar os esbirros da operação.
Para registro histórico, há um conjunto de questões que serão levantadas com o tempo. Como, por exemplo, saber quem, quando, onde e por quê foi definido o escopo da Lava Jato exclusivamente em um partido e uma operação. Nessa decisão estão embutidas todas as consequências que permitiram alimentar a campanha do impeachment de um presidente eleito.
Levantando a história, sabendo-se em qual instância houve essa formatação, se terá o raio-x dos conspiradores.

Etapa Congresso

A lista da Odebrecht mudou a cena de batalha para o Congresso.
O Congresso é céu cheio de nuvens, que vão se formando de acordo com ventanias em todas as direções. As nuvens podem mudar repetinamente, da noite para o dia.
A lista Odebrecht foi o furacão que, no momento, empurrou parte expressiva da bancada para o lado do impeachment e ordenou Michel Temer condutor  do golpe.
Há duas ilusões nesse movimento.
A primeira, a de que um acordão do Congresso para tirar Dilma saciaria a fome do leão, segurando o ímpeto da Lava Jato e permitindo o acordo por cima.
A segunda, a da ilusão econômica, o canto da sereia dos economistas mágicos, prato cheio para iludir governantes vazios.
Dilma caiu nessa história com o pacote radical do Joaquim Levy. Em março passado ela garantia que o pior da crise já havia passado e, agora, era apenas esperar a recuperação. Bastariam medidas radicais em janeiro, purgando os pecados, para que surgisse a salvação.
Temer está sendo induzido a jogada semelhante.
Ontem conversei com uma boa fonte de um grande banco sobre a ilusão Temer. A lógica que enfiaram na cabeça de Temer é a seguinte:
1.    O impeachment será votado na Câmara entre 19 e 20 de abril, Dilma deixa o cargo em meados de maio e Temer assume.
2.    O Senado acelera o rito e procede-se a uma intensa barganha de cargos.
3.    Temer reduzirá o número de Ministérios imediatamente após assumir, nomeará equipe técnica de mercado na economia.
4.    Esses movimentos ajudarão a turbinar a euforia do mercado, haverá melhor nos preços dos ativos e ele garantirá a popularidade via mídia até 2018, quando se apresentará como candidato.
5.    A estratégia diversionista – de que o “tumor” PT foi extirpado - ajudará a segurar a Lava Jato, impedindo a continuidade da caça às bruxas.
Obviamente nessa lógica não entraram manifestações populares, Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal e cenários mais drásticos, como guerras de rua, violência, mortes.
Aliás, não existe nada mais divertido – e trágico - do que “cenários” montados por economistas para legitimar suas propostas políticas. Para fechar raciocínio, tiram todos os fatores que possam comprometer a conclusão final.
Nesse mundo idílico, só existem parlamentares ameaçados pela Justiça contando com a benevolência da rede Globo, bastando para tal saber distribuir benesses e montar um programa econômico neoliberal que imediatamente conquistará os mercados trazendo a paz e a felicidade para os nossos.
O programa Ponte para o Futuro tem um conjunto de princípios liberais, algumas recomendações de bom senso – que poderiam ser implementadas por qualquer governo racional – e um saco de maldades explicitado na edição de domingo do Estadão, em reportagem com Wellington Moreira Franco – um dos varões de Plutarco que cercam Temer (http://migre.me/tmDPJ):
·      Acabar com o uso do FGTS para Minha Casa Minha Vida
·      O combate à desigualdade será restrito aos 10% mais pobres.
·      Estender o Pro-Uni ao ensino médio. É evidente o lobby das escolas privadas aí. Um programa visando redução de gastos fiscais que cria um Pro-Uni do ensino médio. Nem procura disfarçar. De um lado, a ideia de políticas sociais só para os 10% mais pobres. Com esses recursos, turbinarão o sistema de ensino médio privado.
·      Intervenção no SUS. “O sistema é vital, mas está fora de controle”.
Demonstram ter menos conhecimento do país real do que o novo colunista de redes sociais e polemista de conversas grampeadas, Ministro Celso de Mello.
A não ser fundos abutres e fabricantes de armas, que investidor sério acreditará em um programa econômico conduzido por um governo provisório, ilegítimo, sitiado por processos de toda ordem, com medidas que produzirão um terremoto social no país e reverterão um dos grandes feitos sociais das últimas décadas, e que construirá sua base de apoio com ampla distribuição de benesses e cargos? E, além de tudo, vulnerável à imputação de crimes de responsabilidade - ao contrário de DIlma.
Em que ano vivem essas pessoas? Em 1964?
Em brevíssimo espaço de tempo, medidas econômicas, aprofundamento da recessão (que já está contratada), vazamentos de dossiês transformarão em pó qualquer veleidade de apoio interno e internacional. Será guerra campal sem generais.

Etapa Pacto

Há pouco tempo para a montagem de uma saída alternativa.
Como escrevi lá em cima, estamos no fim de um ciclo político que começou com a redemocratização e encerra-se agora, na era das redes sociais, das novas tecnologias, dos novos modelos de combate ao crime organizado.
O passo que está prestes a ser dado é uma temeridade. Poderá provocar convulsões sociais. Por vir de um governo provisório ilegítimo, não conseguirá conquistar a confiança do mercado ou dos investidores internacionais.
Pela própria natureza do pacto, provocará reações de monta na população, no Ministério Público e no Judiciário. Os olhos do mundo estarão voltados para o país, testemunhando as barganhas que terão que ser feitas para a consolidação provisória do governo.
Haverá guerras de dossiês, autofagia, cobranças explícitas das promessas prévias, acelerando ainda mais a perda de legitimidade, estimulando os confrontos de rua e a ampliação da violência. Como reagirão? Colocando as Forças Armadas na rua? Valendo-se das Polícias Militares para repressão? Jogando os adversários na clandestinidade?
Ainda dá tempo de interromper essa loucura e se pensar em um pacto amplo. A elite que nos colocou nessa encrenca deve isso ao país, de Dilma a Temer, do PT ao PSDB, de Lula ao Fernando Henrique, do presidente do STF ao Procurador Geral.
Restam poucos dias para interromper essa marcha da insensatez e mostrar que o país pode aspirar um lugar entre as modernas democracias consolidadas.

Reprodução do Blog do Luís Nassif

sexta-feira, 25 de março de 2016

Obama diz "nunca mais" no aniversário de 40 anos do golpe militar na Argentina

Obama diz "nunca mais" no aniversário de 40 anos do golpe militar na Argentina

Presidente afirmou no evento que ´os Estados Unidos devem analisar o passado´

Quarenta anos após o golpe militar na Argentina, Barack Obama disse nesta quinta-feira "nunca mais" às ditaduras em uma histórica homenagem às vítimas do sangrento regime apoiado por Washington entre 1976 e 1983 neste país e em seus vizinhos Chile, Uruguai, Bolívia e Brasil.
Obama pediu para que "se cumpra a promessa do nunca mais", duas palavras que expressou em espanhol e que encerraram o caso contra as juntas militares do regime ditatorial no julgamento de 1985, que condenou à prisão perpétua dois comandantes. O presidente americano prestou homenagem às vítimas da ditadura no Parque da Memória, à beira do Rio de la Plata, onde foram jogados drogados e milhares de opositores.Ao lado de seu colega argentino Mauricio Macri, percorreu o parque e jogou flores brancas na água.

"Os Estados Unidos devem analisar o passado", afirmou Obama em tom cerimonioso no memorial com os nomes de 9.000 mortos e desaparecidos. Nenhuma organização de defesa dos direitos humanos participou do ato, desconfortáveis com a visita do presidente americano em uma data sensível para o país.
"Estamos aqui em um parque em homenagem à coragem e perseverança. Um tributo aos cônjuges, irmãos e filhos que não abandonaram os esforços para alcançar a justiça e a verdade", declarou Obama.
Ele também fez alusão à luta de organizações como as Mães e Avós da Praça de Maio em busca da verdade sobre o terrorismo de Estado, ao qual atribuem cerca de 30.000 desaparecimentos, incluindo de 500 bebês, dos quais apenas 119 foram encontrados até hoje.
"Essas famílias, suas incessantes e constantes ações, fizeram a diferença. Vocês fizeram incríveis esforços para responsabilizar aqueles que perpetraram esses crimes", disse Obama. "Sei que há controvérsias sobre as políticas dos Estados Unidos naqueles dias obscuros. As democracias devem ter a coragem de admitir quando não está à altura dos ideais que defendemos, quando tardamos em defender os direitos Humanos. Esse foi o caso da Argentina", ressaltou.
Marchas pela Memória
O dia 24 de março é conhecido como o Dia da Memória na Argentina, e marchas foram convocadas para dizer "nunca mais" em várias partes do país. Em um exercício de diminuir as tensões nesta nação de fortes sentimentos anti-americanos, Washington antecipou a desclassificação de arquivos militares e de inteligência que podem ajudar na busca pela verdade sobre pessoas desaparecidas.
Obama declarou nesta quinta-feira que, "a pedido do presidente Macri, desclassificaremos mais documentos da ditadura". "Foi um gesto positivo", consideraram em uníssono líderes como Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, e o Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel.
Na quarta-feira, Obama disse que seu país fez um exercício de "auto-crítica". "Na década de 70 a nossa abordagem sobre os direitos Humanos era tão importante como a luta contra o comunismo", disse ele.
"Um novo começo"
Obama destacou a nova era nas relações com a Argentina, em um jantar de Estado no Centro Cultural Kirchner, em um imponente edifício histórico inaugurado no ano passado pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015). Durante o jantar, Obama chegou a ensaiar passos de tango.
A última visita de um presidente dos Estados Unidos à Argentina foi a de Bill Clinton em 1997, quando os militares contavam com a proteção de duas leis de anistia e a questão da ditadura não foi incluída na agenda. O ex-presidente Nestor Kirchner (2003/2007) impulsionou a anulação das leis de anistia e a retomada dos julgamentos por crimes contra a Humanidade, o que levou a centenas de condenações vinculadas a este período negro na história da Argentina.
A visita oficial de Obama se encerra nesta quinta-feira, após uma visita a Bariloche, 1.650 km ao sudoeste da capital. Ele retorna a Buenos Aires para pegar o avião que o levará de volta a Washington depois da meia-noite.

Reprodução do Correio do Povo

O amor é uma faca afiada no coração

Chorei o resto do dia inteiro quando num domingo, por alguma razão, o pai não quis me levar nas carreiras. Era minha maior felicidade naquele tempo na hoje distante Vila Rica. Não ver os parelheiros “voando” sobre os trilhos de areia era dor imensa que a vida parecia não ter mais sentido. Jurei nunca mais botar os pés perto da cancha, mas durante a semana, o velho, remoído pelo remorso, avisou que o próximo domingo seria de festa. Falou dos cavalos que iriam participar e que íamos churrasquear debaixo dos cinamomos. Que lindo era ver o povo vestido a capricho, mulheres com vestidos domingueiros, ricaços em autos encerados e, vez por outra, um gauchão do tempo antigo, bem pilchado, montado num belo pingo, com arreios de prata. Eram guapos que ostentavam adagas e que aceitavam briga por um motivo qualquer.
Neste domingo, nem lhes conto, ali pelas três da tarde chegou um tal de Mulato, um negro domador de cavalos com uma linda morena na garupa. A Tina Fumaça era conhecida tanto pela beleza como por seu gênio forte e pelos casos que tivera com alguns carreiristas endinheirados. E o Mulato era mandingueiro, mulherengo e cujos olhos pretos debochados eram alvos de outra beleza da terra, a gringa Mariana que, segundo comentários, era apaixonada por ele. Pelo sim, pelo não, o certo é que o Mulato chegou fazendo alarde e apeou bem em frente à sombra onde estavam a gringa, sua mãe e o padrasto. Depois, o Mulato pegou nos braços a Tina e no embalo de um rádio próximo, saiu dançando com a chinoca numa vaneira, levantando poeira. A gringa olhou aquele deboche com olhos encharcados de ciúme, bufou e entrou na camioneta da família e de lá não saiu mais. Minto, saiu, mas apenas para fazer algo que iria arruinar sua vida. Era final da tarde, a Tina estava sentada, solita, ao lado do tordilho do Mulato. Então, babando de raiva, a rival correu e num bote de onça ferida se lançou sobre a infeliz amante e enterrou-lhe uma carneadeira assim meio de lado. A lâmina cruzou as costelas e atravessou o coração. Não vi, me contaram depois. A Tina morreu na hora e a gringa foi detida por dois milicos e mais tarde transferida para a Capital. Nunca mais se ouviu falar dela.
Sei que fui para casa tão triste com aquilo tudo que decidi nunca mais ir às carreiras. Na época, não entendia porque alguém mataria por ciúme. O que é o amor, porque ele às vezes se associa á desgraça, se envolve com sofrimento? Ah, meus amigos, já vivi muito e ainda não achei resposta. Só sei que a gente deixa de ir a festas, para de comer churrasco gordo, a gente aprende e desaprende tantas coisas. A única coisa que a gente nunca aprende é parar de amar, mesmo que isso represente uma faca afiada no coração…


Reprodução do Blog Campereadas, de Paulo Mendes, no Correio do Povo

quinta-feira, 24 de março de 2016

Morre ídolo do futebol holandês Johan Cruyff

Morre ídolo do futebol holandês Johan Cruyff

Ex-jogador sofria de câncer no pulmão

Johan Cruyff, um dos maiores jogadores da história, morreu nesta quinta-feira aos 68 anos, vítima de um câncer de pulmão. "Em 24 de março de 2016, Johan Cruyff (68 anos) faleceu em Barcelona, cercado por sua família depois de uma longa luta contra o câncer. Pedimos com grande tristeza que a privacidade da família seja respeitada durante o período de luto", informou sua família através do site de Cruyff.
O holandês foi vencedor de três bolas de ouro, a maior premiação individual para um jogador de futebol (1971, 1973, 1974). O jogador revolucionou o meio de campo vestindo as camisas do Ajax de Amsterdã e do FC Barcelona, entre outros, bem como a da seleção holandesa, sendo finalista do Mundial de 1974.

Cruyff revelou em outubro de 2015 que estava sofrendo de um câncer no pulmão. Fumante inveterado, largou o cigarro em 1991 depois de ser submetido a uma cirurgia cardíaca. Inclusive protagonizou uma campanha para o departamento de saúde regional da Catalunha, onde faz 16 embaixadinhas com um pacote de cigarro antes de chutá-lo para longe. "Em minha vida, tive dois grandes vícios: fumar e jogar futebol. O futebol me deu tudo na vida e, em compensação, fumar quase a tirou de mim", afirmava no anúncio.
Há pouco mais de um mês, o ex-craque holandês afirmou que o tratamento contra seu câncer no pulmão estava rendendo resultados "muito positivos" e mostrou-se convencido de que venceria esta batalha. "Depois de várias sessões de tratamento médico, hoje posso dizer que os resultados estão sendo muito positivos, graças ao excelente trabalho dos médicos, ao carinho das pessoas e à minha mentalidade positiva", afirmou Cruyff, em um comunicado feito divulgado pela empresa Cruyff Management.
Inspiração para muitos
Apelidado de "o holandês voador", o ex-jogador de 68 anos era a encarnação do "futebol total", praticado nos anos 1970 pelo Ajax e pela seleção holandesa. Junto a outros holandeses como Johan Neeskens, Ruud Krol e Arie Haan, maravilhou o mundo pelo gosto pelo bom futebol.
Apesar de sua figura esguia e aparência frágil, Cruyff viveu sua glória como jogador no Ajax entre 1964 e 1973 como uma referência entre os meio-campistas, criando jogadas, como um maestro, e tornando-se uma fonte de inspiração para muitos jogadores que o sucederam, como o francês Michel Platini. "Foi o melhor jogador de todos os tempos", declarou Platini nesta quinta-feira.
Visão de jogo, passes rápidos e precisos, técnico, talentoso e goleador, Cruyff tinha todas as características de um bom jogador de futebol moderno. Profissional desde os 17 anos no Ajax, Cruyff cresceu com o número 14 nas costas, número que permanece emblema da sua passagem pelo Ajax. Em 1973 se juntou ao FC Barcelona treinado por seu compatriota Rinus Michels (1973-1978).
Entre as imagens que ficarão para a posteridade, destaca-se o da final da antiga Copa da UEFA de 1972, em Roterdã, entre Ajax e a Inter de Milão, vencida por 2 a 0 pelos holandeses, impondo todo o seu futebol contra os italianos. Era a segunda de três vitórias consecutivas do Ajax na competição continental

Reprodução do Correio do Povo

Já pensou se protesto fosse diante da casa de Gilmar Mendes, que escândalo?

Como não sei se alguém ainda identifica equilíbrio jornalístico na cobertura da conflagração em curso no Brasil, corro o risco de chover no molhado. Tudo bem.
Ontem à noite, manifestantes se concentraram em Porto Alegre na porta do condomínio onde reside Teori Zavascki quando não está Brasília, onde é ministro do Supremo Tribunal Federal.
Pouco antes, o ministro havia determinado que as investigações sobre o ex-presidente Lula, na Operação Lava Jato, devem correr no âmbito do STF, e não na vara de primeira instância sob responsabilidade do juiz Sérgio Moro.
Os participantes do protesto discordam da decisão do ministro.
Gritaram palavras de ordem, levaram faixa. “Teori é traidor'', entoaram em um cântico. Para assistir ao que houve, é só clicar aqui, em notícia da “Zero Hora''.
Não interessa, nesse post, discutir méritos de despachos de Zavascki e Moro.
Mas observar o relativo silêncio jornalístico sobre o episódio passado na capital gaúcha.
E fazer uma pergunta: caso a manifestação tivesse ocorrido na porta da casa do ministro Gilmar Mendes, a discrição do noticiário sobre o protesto seria tamanha?
Outra: ou existiria uma grita, em tom de escândalo, falando em tentativa antidemocrática de intimidação do Judiciário?
Não responderei, porque não precisa.
A essa altura, tudo é desgraçadamente óbvio demais.

Reprodução do Blog do Mário Magalhães, via DCM